O
presente relatório tem por objetivo a análise de minhas observações como
estagiário na Escola de Aplicação da USP (EA) neste segundo semestre de 2011.
Se no primeiro semestre a idéia era a de trazer impressões mais gerais sobre a
escola, sobre seu espaço físico e a relação dos alunos com este, sobre a
relação dos alunos com o professor e entre si, o foco deste segundo relatório
está no uso específico de recursos didáticos nas aulas de Sociologia para o
Ensino Médio.
Conforme
já apontado no relatório anterior, a Escola de Aplicação da USP está
desobrigada a usar o “Caderno do Professor” e o “Caderno do Aluno”, o que
proporciona ao professor uma maior liberdade para escolher conteúdos e para
trabalhá-los da maneira que achar mais adequada com os seus alunos. Isso se
reflete também na grande variedade de recursos didáticos utilizados (ao menos
nas aulas de Sociologia, com as quais mantive mais contato) e na variedade de
fontes, não se reduzindo a determinado autor, livro ou apostila.
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Pude
perceber, sobretudo quando tive que montar um plano de aulas, que existem
algumas variáveis que influenciam diretamente nas estratégias utilizadas pelo
professor para elaboração de uma aula. Uma dessas variáveis, sem dúvida, é o
número de alunos. Evidentemente que é muito diferente se pensar em uma aula
para 5 alunos e se pensar em uma aula para 30 (o caso da Escola de Aplicação),
o que se dizer de uma aula para uma classe que em muitos casos supera os 40
alunos (o caso da maioria das escolas públicas brasileiras).
Outra variável a
se considerar é o tempo disponível para a aula. Um aspecto interessante da EA é
o fato de atualmente disponibilizar duas aulas de 50 minutos para Sociologia, o
que possibilita o uso de recursos que demandam mais tempo, como a transmissão
de um longa-metragem, por exemplo. Além disso, essas aulas não são “quebradas”,
como acontece freqüentemente em algumas escolas, evitando que o professor tenha
que interromper um assunto na metade para retomar na segunda aula da semana.
Além disso, ainda
é necessário considerar que a maioria dos alunos que acompanhei, possuem
disponibilidade de tempo para poder realizar atividades que complementam o que
era desenvolvido em sala de aula. Isso permitia ao professor pedir que os
alunos lessem obras na íntegra, fizessem trabalhos em grupo, realizassem
atividades no contra-turno (visita à Bolsa de Valores, por exemplo), etc.
Ainda é preciso
não esquecer que, ao se pensar em recursos didáticos para uma aula, é
necessário se pensar na disponibilidade desses recursos existentes na escola.
No caso da EA, ainda que nem sempre nas melhores condições, existe uma
disponibilidade boa de recursos. Já foi dito no primeiro relatório, por
exemplo, que a EA possui um acervo de 70 exemplares dos livros que serão utilizados
ao longo do ano, o que é suficiente para que cada um dos 60 alunos (são duas
turmas de 30 alunos para cada ano) tenha um livro consigo para poder ler em
casa. Quando o professor optou por usar apenas trechos de livros ou de outros
materiais, a escola fornecia fotocópias para todos os alunos. Além disso, a
escola ainda possui uma sala de áudio-visual, onde o professor pode pegar
emprestado cd-players, notebooks com acesso à internet, além de projetores. A
escola ainda possui um auditório, utilizado para apresentações maiores.
Ademais, acho
ainda necessário destacar que as aulas dependem do quanto o professor espera de
seus alunos. No caso do professor de Sociologia que acompanhei, este sempre
demonstrou esperar bastante de seus alunos e, por mais que muitos reclamassem
(da quantidade de leitura, por exemplo) em geral acabavam dando conta da
maioria das atividades.
***
Retomei
minhas atividades de estágio, já com o segundo semestre em andamento, na
primeira semana de setembro. Logo neste meu “retorno” já pude observar uma aula
com uso de um recurso didático, uma vez que os alunos assistiam à parte final
do filme “Germinal”, baseado no livro homônimo de Émile Zola.
A aula em questão
estava inserida num conjunto de aulas sobre o livro “Manifesto do Partido
Comunista”, de Marx e Engels, que desencadearia em um debate sobre mudanças e
movimentos sociais com o decorrer do curso. Além disso, a exibição do filme
fazia parte das aulas de Língua Francesa, possibilitando com que os professores
usassem as aulas das duas disciplinas para a exibição do longo filme (170
minutos). Esse caso é só um dos muitos projetos interdiscplinares realizados
pela escola e que aparentemente funcionam muito bem (no primeiro relatório eu
já havia citado a viagem que esta mesma turma fez ao Rio de Janeiro, projeto
que contou com a abordagem de diversas disciplinas como História, Geografia,
Sociologia e Educação Física).
Além
de assistirem ao filme os alunos também receberam um “Roteiro de Compreensão,
interpretação e análise do filme”, material feito pelos próprios professores e
que buscava relacionar passagens do filme com trechos do “Manifesto” e com o
próprio romance de Zola. Considero o uso de tais “roteiros” um meio de tornar a
exibição de filmes algo realmente significativo para a aprendizagem, e não
apenas um recurso para tornar a aula mais “descontraída”. O uso desses roteiros
são bastante freqüentes em outras atividades das aulas de Sociologia, como o
utilizado para a leitura de “Recordações do escrivão Isaias Caminha” (conforme
referido no primeiro relatório) e o utilizado para a leitura de “O capital em
quadrinhos” (conforme falarei a seguir), apenas para citar alguns exemplos.
Considero,
entretanto, necessário fazer algumas considerações sobre o modo como se deu a
exibição. O filme foi exibido na própria sala de aula e em uma TV de 20
polegadas, o que impossibilitava, por exemplo, que a legenda pudesse ser lida
de todos os lugares da sala (percebi que algumas pessoas que estavam no fundo
da sala acabavam desistindo e dormindo no meio da exibição e outras iam sentar
bem na frente da TV para poder acompanhar melhor). Além disso, por conta da
longa duração, o filme precisou ser passado em mais de um dia. Penso que a
pausa pode atrapalhar o acompanhamento do filme para alguns alunos. É óbvio que
nem sempre se pode contar com as melhores condições, ainda mais quando estamos
tratando de uma escola pública, mas acredito que estas questões devem ser
levadas em consideração ao se pensar no uso didático de filmes.
Parte
destes inconvenientes foram minimizados na exibição de um outro longa-metragem,
a primeira versão de Wall Street (de 1987), ocasião em que o tema da aula
era “Introdução à Economia”. O filme foi
projetado no auditório da escola, o que permitiu que todos os alunos pudessem
ver bem o filme.
Na
seqüência do curso, o professor trabalhou com a fotocópia de “’O capital’ em
quadrinhos” (que já havia sido entregue aos alunos anteriormente), HQ baseada
no volume I da obra “O capital”, de Marx, e ilustrado por K. Ploeckinger e G.
Wolfram. Quando perguntei ao professor por que os alunos leram, no início do
semestre, o texto original de “O manifesto do Partido Comunista” e estavam
lendo uma versão em quadrinhos de “O capital”, ele respondeu o que na verdade
eu já esperava, que a grande complexidade desta última obra dificultava muito o
uso do texto original, motivo pelo qual os quadrinhos funcionavam melhor. De
fato, percebi que a HQ fez mais “sucesso” com alguns alunos que possuem menos
apreço pela leitura, cujos os quais foram “flagrados” por mim lendo os
quadrinhos até mesmo fora do horário da aula.
Com
relação ao conteúdo da HQ, esta não tem uma qualidade técnica muito grande.
São, na verdade, ilustrações bem simples cuja função está mesmo em facilitar a
absorção de conceitos nem sempre palatáveis num primeiro contato. Um exemplo
disso é que os diálogos entre as personagens não são espontâneos e nem estão
inseridos em situações cotidianas, mas possuem conteúdo didático, usando muitas
vezes trechos simplificados da própria obra (uma espécie de “teatrinho”
didático transposto para o papel). Entretanto, acho que a HQ cumpriu bem o seu
papel didático, complementado pelo “roteiro de leitura” que os alunos
trabalharam em duplas[1].
A leitura e atividade de “’O capital’ em quadrinhos” serviu de mote para a
discussão, que se iniciaria após algumas semanas, sobre “Introdução à
Economia”.
Na
aula sobre “Movimentos Sociais”, o professor trabalhou de maneiras distintas
com dois livros didáticos. Inicialmente com o “Introdução à Sociologia”, de
Pérsio de Oliveira, e num segundo momento com o “Sociologia para o Ensino
Médio”, de Nelson Tomazi.
O
professor usou o primeiro livro, de leitura bem mais simplificada, para a
introdução do tema. Pediu para que os alunos lessem em casa o capítulo sobre
“Mudança social” e respondessem às questões propostas. Na aula, o professor
chamou a atenção dos alunos ao fato do autor usar exemplos já bastante
ultrapassados, uma vez que a obra data dos anos 80. Conforme os alunos iam
lendo suas respostas às questões propostas, o professor ia fazendo comentários
e ampliando a discussão.
No
que diz respeito à atividade realizada com base no livro de Tomazi, confesso
que o resultado me impressionou bastante, sobretudo ao comparar aquela situação
com minha própria experiência de estudante de Ensino Médio. O professor
previamente distribuiu para a classe a fotocópia do capítulo de Tomazi sobre
“Revolução e transformação social”, pediu para que eles se dividissem 5 grupos
de 6 alunos cada. Um grupo ficou responsável por pesquisar sobre o que Tomazi
chamou de “revoluções clássicas” (inglesa, americana e francesa) e cada um dos
outros grupos ficou responsável por expor sobre uma das chamadas “experiências
revolucionárias no século XX” (Revolução Mexicana, Revolução Russa, Revolução
Chinesa e Revolução Cubana).
Se
esse tipo de pesquisa em grupo não apresenta nada de muito inovador, a forma
que cada grupo apresentou seus resultados para o resto da classe me pareceu
bastante interessante. Dispostos em círculo, cada grupo teria um tempo
pré-determinado para falar e os outros (o professor fez questão de dizer que
ele e os estagiários também poderiam participar) teriam também um tempo para
comentar e fazer perguntas ao grupo que apresentava. O combinado era que os
grupos respondessem a três perguntas: “Por que se afirma que houve uma
revolução neste local?”, “Quais foram as conseqüências desta revolução?” e “A
Revolução foi benéfica para a população local? Justifique”. Toda essa dinâmica
era controlada por dois alunos que voluntariamente se ofereceram para serem os
mediadores do debate, inscrevendo os interessados em comentar e direcionando a
palavra ao inscrito da vez. Para finalizar, os grupos ainda teriam que preparar
para a aula seguinte, um texto relatando o debate.
Obviamente
que nem mesmo a constrangedora disposição em circulo foi empecilho para que
alguns tirassem o sono atrasado (mesmo que isso estivesse visível aos olhos de
todos), entretanto, acredito que muitos levaram a atividade bem a sério. Me
pareceu que a aparência “democrática” da situação, com até uma certa
formalidade caracterizada pelas “inscrições” e pelos limites de tempo para a
fala, fizeram com que alguns alunos que não costumam falar muito durante as
aulas mais tradicionais, emitissem sua opinião mais livremente, com menos medo
de sofrerem com piadinhas (que quando ocorriam eram verbalmente desencorajadas
pela “mesa”, uma vez que toda intervenção, até mesmo do professor, tinha que
passar pela “inscrição”).
Considero
que, de modo geral, a atividade foi bastante proveitosa para a maioria. Ao sair
do já tradicional “seminário” (em que geralmente somente o grupo que apresenta
é quem acaba falando), a atividade proporcionou algum debate, algo que pode ir
se tornando mais familiar aos alunos com a recorrência deste tipo de
experiência. Esta atividade também exemplifica a importância em não cercear o
professor com a imposição do que e de que forma ensinar, postura tão claramente
evidenciada com a adoção dos “Cadernos do Professor”.
Dada
minha impossibilidade de acompanhar um maior número de aulas, não pude
vivenciar como se deu o uso de outros recursos didáticos como a já citada
visita à Bolsa de Valores. Entretanto, é necessário salientar que realmente é
notável a preocupação com a variedade de alternativas didáticas na Escola de
Aplicação, algo que destoa da realidade da maioria das escolas públicas onde o
giz e a lousa acabam predominando e onde a criatividade do professor está cada
vez mais cerceada.
REGÊNCIA
O tema proposto para a
minha regência foi o de “introdução ao debate sobre os movimentos sociais” e
contou com a participação dos outros dois estagiários que acompanharam as aulas
de Sociologia neste segundo semestre. Fomos, portanto, um trio de professores.
Nossas aulas foram programadas em conjunto e resultaram nas aulas 7 e 8,
conforme meu “Plano de Aulas”. Ministramos as aulas para os dois terceiros anos
da escola, turmas que acompanhamos ao longo de todo o estágio.
É importante ressaltar que
as aulas ministradas por “quem é de fora”, pelo estagiário, representa um
momento de ruptura com a rotina dos alunos. Isso pôde ser percebido pela clara
alteração no comportamento dos alunos que, nas duas turmas, ficaram bem mais
quietos, não fazendo as habituais brincadeiras e piadinhas que costumam fazer
nas aulas do Prof. Felipe.
É inegável que esta
postura nos favoreceu bastante. Nossa grande preocupação era a de não conseguir
falar nada e termos que inventar artifícios para nos fazer ouvir. Ainda que
nada disso tenha acontecido, a experiência que tivemos como observadores das
aulas do Prof. Felipe nos faz concluir de que isso foi mais exceção do que
regra.
Com relação
à participação dos alunos, percebemos algumas diferenças entre as duas
turmas. Em alguns momentos da aula pedíamos que os alunos emitissem suas
opiniões (sobre a ligação da letra da música com o trecho da Constituição, por
exemplo) ou dessem exemplos (de movimentos sociais, ONGs, etc). Percebemos que
os alunos da primeira turma iam mais direto ao ponto onde queríamos chegar.
Para a segunda turma, de modo geral, os alunos fugiam bem mais do que
“esperávamos que eles fossem responder”, de modo que tivemos que explorar
melhor a maneira de perguntar, escolher outras palavras, etc.
Antes de iniciarmos a
falar sobre movimentos sociais e sobre ONGs (outro tema da aula) tentamos
partir de experiências que os alunos já tiveram (uma vez que durante o curso de
Sociologia, os alunos visitaram o MST e uma ONG). A impressão é que esta
aproximação tenha tornado o tema mais palpável e envolvido mais os alunos.
No que diz respeito à escolha dos
recursos didáticos, optamos por usar uma música que supúnhamos que os alunos
conhecessem (Comida, dos Titãs, conforme “Plano de Aulas”). Durante a
experiência de estágio, percebemos que este era um recurso didático que os
alunos acabavam se envolvendo bastante, além deles já estarem bastante
habituados.
De modo geral, considerei que a
experiência com o estágio bastante enriquecedora, sobretudo ao me proporcionar
a reflexão em torno de um plano de aulas, atividade que me colocou diante da
necessidade de fazer inúmeras escolhas, escolhas estas que precisam ser
constantemente avaliadas para se melhorar sempre.
ANEXO
No relatório do primeiro semestre, ainda que este não tenha sido o
foco, teci algumas considerações sobre o uso de recursos didáticos nas aulas de
Sociologia na EA. Ainda que neste presente relatório eu esteja tratando
especificamente das atividades relativas ao segundo semestre, creio que seja
relevante trazer aqui o que já havia sido discutido naquela primeira oportunidade:
“(...) Buscarei expor aqui minhas
impressões das atividades realizadas em sala de aula neste primeiro semestre,
complementando aquelas que já expus ao falar sobre o que prevê ou recomenda o
“regimento” e o “plano escolar” da EA. Evidentemente que o tempo foi curto e
que minhas impressões tenham sido prejudicadas por conta disso. Minha intenção
é de que estas experiências sejam encaradas mais como “impressões” do que como
“conclusões”.
- Conteúdo da disciplina: A EA não é
obrigada a usar o Caderno do Professor e o Caderno do Aluno, assim sendo, o
professor é livre para desenvolver o conteúdo que achar mais adequado com seus
alunos. No caso das duas turmas de 3º ano nas quais estou estagiando, o Prof.
Felipe começou o ano com as formas e sistemas de governo e as instituições
políticas, pedindo aos alunos que pesquisassem as características políticas de
um país previamente sorteado. Num segundo momento, o qual compreendeu
praticamente todas as aulas em que estive presente, Felipe desenvolveu o
Liberalismo, com ênfase no Liberalismo brasileiro. Nas últimas aulas deste
semestre, Felipe tem abordado (o semestre letivo se encerra em 1o de
julho) o socialismo utópico. Achei curioso o fato de Felipe se basear
exclusivamente em material que ele mesmo produz (roteiros de leitura, por
exemplo) e obras de literatura como a já citada “Recordações do escrivão Isaías
Caminha”, de Lima Barreto, para abordar o Liberalismo. Além disso, foram solicitados aos alunos que
lessem alguns capítulos de “Os bestializados”, de José Murilo de Carvalho, para
analisar a passagem do Império para a República; “O manifesto do Partido
Comunista”, de Marx e Engels, para a aula sobre socialismo, dentre outros. Os
alunos, é verdade, reclamam bastante da quantidade e da complexidade dos textos,
entretanto, sempre são colocados diante da oportunidade de debaterem sobre
algum tema, o fazendo com referência aos autores lidos, alguns inclusive lidos
no primeiro ano;
Para mim é nítido que o professor
optou por fazer da Sociologia uma disciplina de conteúdo propriamente
sociológico, com um número relativamente grande de leituras (ao menos se
considerarmos a média para os alunos nessa faixa etária) de autores clássicos
da Sociologia como Durkheim e Marx. Também são utilizados autores de obras
literárias, como Lima Barreto e George Orwell (“O romance tem uma função social
de humanização”, disse Felipe à turma). Estas escolhas contrastam com o que
comumente ouvimos acerca do ensino desta disciplina, como um espaço para
discutir questões relativas à atualidade (geralmente dissociados de um
embasamento teórico). Avalio que esta escolha é bastante corajosa, sobretudo
considerando a relutância que alguns alunos tem à leitura, e que não subestima
a capacidade dos alunos de compreenderem questões um pouco mais abstratas.
Minha impressão é de que, mesmo demonstrando desaprovação, os alunos conseguem
“encarar” esses textos e argumentarem minimamente sobre eles. Ao fazê-lo,
muitos o fazem de maneira articulada e usando vocabulário emprestado dos
próprios textos. (confesso que quando Felipe me disse que os alunos liam Lima
Barreto, Marx e cia, considerei que isso funcionaria de maneira bem menos
satisfatória).
Entretanto,
minha impressão é de que isso pode não funcionar para todos ou pelo menos não
da mesma forma. Há sempre aqueles que usam a aula de Sociologia para tirar o
sono atrasado ou para manter o papo em dia. Há aqueles que demonstram que a
linguagem escrita não é tão significativa quanto à música ou dança, por exemplo
(e aqui a referida multiplicidade sócio-cultural costuma aparecer). Uma
tentativa de experimentar um pouco essas outras formas de linguagem foi na aula
de aproximação ao socialismo utópico, ou mais precisamente, à idéia de
“utopia”. Ainda que de maneira corrida (sim, o tempo é curto; sim, considerável
parte do tempo é gasto esperando pelo precioso silêncio) o professor projetou
vídeos do “You Tube” que falavam sobre aspirações coletivas ou aspirações
individuais. Avril Lavigne, Raul Seixas, Art Popular e John Lenon cantaram suas
aspirações e muitos dos que dormiam resolveram ficar acordados para ouvir. Não
sei se eles entenderam o que é utopia, mas acredito que este tipo de linguagem
tenha sido mais significativo para alguns, que evidentemente também não podem
estar privados de ter acesso à linguagem escrita e de serem encorajados a
encará-la, como é feito nas outras aulas. Nesse sentido, considerei que a
mesclagem de linguagens tenha sido bem satisfatória (...)”
[1] As questões que os alunos tiveram que responder em duplas foram: 1.
Defina dinehiro e apresente suas características; 2. O que é mercadoria?; 3.
Explique a mais-valia; 4. O que é “fetichismo da mercadoria”? Tais perguntas
não apresentam nenhum grande desafio aos alunos, mas cumprem o papel de elencar
os principais conceitos existentes no texto.